A você, minha fiel companheira que lavou, esfregou, torceu e enxaguou a minha roupa durante trinta e três anos, meu preito de eterna saudade e gratidão. Você chegou com o casamento, no distante ano de 1975. Presente da sogra. Quando cheguei da lua de mel já te encontrei na área de serviço pronta para começar uma labuta que hoje termina. No começo você trabalhava pra dois (as camisas, os lençóis molhados de amor), depois pra três (as fraldas, os vestidinhos), depois dois novamente (as calcinhas menstruadas, os sutiãs) e nos últimos tempos, só pra mim (lençóis de solteiro e camisolas babadas). Naquela época a novela era Pecado Capital e na vitrola girava um único LP: Chico e Bethânia. Hoje, troquei as novelas pelos seriados e tenho 5.689 músicas numa caixinha do tamanho de um maço cigarros. Por falar em cigarros, abandonei o vício. Você me conheceu fumando Minister com filtro. Mas basta de recordações. É hora de partir. Já bate à porta o caminhão que te levará ao ferro velho. É com o rosto banhado em lágrimas que me despeço desta guerreira que nunca fugiu do batente, com raros períodos de soluços, engasgos, troca de correia e vazamentos. Despeço-me com o coração alvejado de saudade. Saiba que nunca ninguém durou tanto na minha vida.
1975 - 2008
Adeus, Brastemp querida. Uma lavadora que fez jus ao nome.
Ivana Arruda Leite
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