Imagine que você está andando apressado pela rua e um desconhecido agarre seu braço e interrompa sua caminhada. Imediatamente, cara a cara com você, ele pergunta: “Quem é o senhor?”. Diante da sua reação estupefata – “Por que? E o senhor quem é?” –, o desconhecido responde: “O meu nome é Jardel e gostaria de lhe oferecer uma promoção da operadora de celular x”. O que você pensaria disso? Como você reagiria?
Imagine agora que a portaria do condomínio onde você mora ficasse permanentemente aberta e, por ali, passasse todo tipo de vendedores que viriam bater à sua porta, a qualquer hora de qualquer dia da semana. Agora, imagine que alguém entra no restaurante onde você está almoçando com amigos, colegas ou parentes, interrompe a conversa e pergunte: “Com quem eu estou falando?”. Ou interrompe o seu banho ou a brincadeira com seu filho ou a fritura de uma omelete ou a sua leitura e pergunta: “Com quem eu estou falando?”...
Pois o assédio dos operadores de telemarketing não fica devendo nada a esses aparentes absurdos, em termos de inconveniência e falta de civilidade. Por princípio ético elementar, deveria ser profundamente constrangedor ligarmos para um número aleatório, conscientes de que não temos a menor idéia da circunstância vivida naquele momento por quem vai atender, apenas por um interesse objetivamente nosso e, eventualmente, muito eventualmente, de quem vai ser importunado.
Quando o seu telefone toca, você é, automática e imediatamente, impelido a atendê-lo na suposição de tratar-se de assunto do seu interesse (por direito, na sua única e exclusiva avaliação) e dotado de suficiente urgência para que seja usado o atalho da telefonia para vencer a distância e as barreiras civilizadas que separam o agente do assunto e de você.
Será que ninguém avalia a dimensão desse fato, antes de promover chamadas, milhares, milhões, de chamadas, simultaneamente, para todo mundo? Será que ninguém consegue realizar na mente o conceito de que ligações de estranhos, principalmente, só se justificam em situações muito especiais: uma emergência que lhe diga respeito estritamente pessoal, uma recomendação de pessoa muito íntima ou uma resposta à consulta prévia (em que você forneceu o número)?
Como você, pessoa normal, se sentiria, tendo que escolher um número particular, desconhecido, na lista telefônica, e ligar para ele, pedir a identificação de quem atende e, enfim, fazer uma proposta que, muito provavelmente, estará completamente fora do contexto vivido por aquela alma naquele momento? Essa é uma estupidez cometida com tamanha freqüência que nos está anestesiando a sensibilidade de todos.
Para as vítimas, vai se convertendo numa fatalidade que cabe viver a quem tem um número de telefone. Um absurdo. Alguém, por acaso, adverte você de que, no momento em que adquire uma linha e um aparelho de telefone celular, está adquirindo, junto, uma mídia, um veículo de comunicação de anúncios, como se fosse um rádio ou um aparelho de televisão? Alguém alerta você de que, ao adquirir uma linha telefônica, você está abrindo um espaço comercial na sua vida pessoal para que a operadora fature as chamadas de telemarketing que você vai receber, compulsoriamente?
Não, claro que ninguém avisa isso, para que você não se sinta no direito de questionar: ou eu pago pelo uso do telefone, livre da “negociação” do meu número para a abordagem comercial, ou não pago e vocês ganham com as chamadas inconvenientes do telemarketing que eu me disponha a receber. Não seria o justo?
Ora, se o telefone virou mídia, meio de abordagem de vendedores de toda sorte de produtos e serviços, nada mais justo do que eu não pagar por ele. Principalmente, por ser uma mídia que, ao contrário da mídia convencional, não me oferece nenhum benefício gratuito em troca: toda a informação obtida por telefone é cobrada. Não é um exagero que eu pague pelo aparelho, pague uma mensalidade pela linha, pague pelas chamadas e, ainda, sirva de “mercadoria” que gera negócios e lucro para as operadoras?
Ou seja, comparando com a televisão, por exemplo, seria como se toda a programação fosse “pay-per-view”, recheada de anúncios, e eu tivesse, ainda, que pagar pelo aparelho e, mensalmente, pela assinatura. Convenhamos, nesse caso, as redes de televisão deveriam, no mínimo, distribuir os receptores gratuitamente aos usuários e não cobrar mensalidade nenhuma dos assinantes... Na telefonia, o absurdo vigora impunemente. Talvez, por isso, o negócio atraia tanto os Daniel Dantas da vida.
Stalimir Vieira, no Propaganda & Marketing.
Concordo integralmente c/ o cara. Sei que gera zilhões de vagas e o escambau, mas deveria ser adotado no Brasil aquele lance norte-americano que vc pode optar por não receber chamadas do tipo. Seria um dos primeiros a subscrever a opção...
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22.9.08
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Um comentário:
Importantíssimo assunto abordado neste post!
Abraço e continnue na abundante Graça!!!
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