20.10.08

Adeus, gravatas

"Prefiro andar de bermuda e com o bolso cheio do que de terno e gravata e sem nenhum tostão."
Luis Felipe Scolari

Demorou, resistiram, enrolaram-se nos pescoços masculinos, sustentaram-se em nós de todos os tipos, mas agora começam a partir. Os nós se desatam, a freqüência de uso se reduz, e, pouco a pouco, as gravatas adormecem para sempre nos fundos de gavetas. Muitas, a maioria, jamais será exibida complementando a elegância masculina. Se no passado as pessoas sentiam um nó no pescoço ao ajustarem suas gravatas, agora sentem um nó na garganta na despedida das gravatas.

Foi o mesmo que aconteceu com os chapéus. Durante cinqüenta anos, no mundo e muito especialmente no Brasil, foi uma atividade mais que próspera. Nos anos 40 e 50 chegaram a existir quase 100 fábricas de chapéus só no Estado de São Paulo. Um dia, esses fabricantes, ficaram contentes quando ouviram falar sobre a chegada da indústria automobilística ao País, emblematicamente representada por um pequeno e simpático "besouro" batizado de fusquinha. Levaram quase 30 anos para descobrir que aquele simpático e emblemático "besouro" decretara, ao chegar, o fim dos anos de prosperidade. Das 100 indústrias hoje sobrevivem meia dúzia. O automóvel matou o chapéu.

Já agora e no caso das gravatas a razão do abandono é a mudança radical nos costumes, quem sabe um pouco do efeito estufa e aquecimento global, o comportamento nas novas gerações que optaram por novos trajes e indumentárias, o ambiente mais informal e descontraído nas empresas e o desejo de muitos de finalmente se livrarem do nó no pescoço. Assim como um dia fez Ricardinho Corte Real num comercial de cerveja, desatando o nó e transformando a gravata em tiara: uma espécie de grito de independência, de libertação. A senha para o fim.

E é global. Nos Estados Unidos, o grande susto aconteceu recentemente, e na reunião do ano de 2000 da AAVM – Associação de Acessórios para o Vestuário Masculino – que representa os fabricantes de gravata daquele país, quando a maioria dos presentes, pela primeira vez que desse para perceber, não se engravataram. No último dia 5 de junho de 2008, tendo seu quadro associativo se reduzido de 128 para 25 empresas, fechou suas portas.

Isso posto, arrumação geral nas gavetas neste final de semana, e fim às gravatas. Claro, não a todas. Mas daquelas 50, 60 80, ou 200 que você tem guardadas, separe, no máximo, exagerando, umas 20 – isso mesmo, aquelas que você gosta mais e que combinam com seu blazer preto ou azul marinho – e dê todas as outras. Mesmo porque, a maioria delas você nunca usou. E mesmo assim vá se preparando para só usar gravatas em todos os próximos anos, de uma a cinco vezes por ano, naqueles eventos ou solenidades em que ainda o nó na garganta for recomendável.

Vamos sentir saudades. Será que vocês se lembram, leitores homens, da primeira gravata, assim como as mulheres se lembram do primeiro sutiã?

Francisco A. Madia, no Propaganda & Marketing.

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