17.12.08

Nosso bom velhinho


Algumas pessoas podem não saber, mas a lenda do Papai Noel surgiu de um modo não tão lendário assim, isto é, realmente existiu um homem que distribuía dinheiro aos necessitados durante o Natal. Seu nome era Nicolau e sua história se espalhou por muitos lugares através dos séculos, inspirando incontáveis outros bem-feitores. A imagem que hoje temos dele, rebatizado de Papai Noel, foi elaborada por volta da metade do século XX com a finalidade de ilustrar uma propaganda da Coca-Cola e tendo como modelo um simpático e rechonchudo senhor sueco.

Pensemos, no entanto, um pouco mais a fundo neste mensageiro, já que a sua mensagem - generosidade, graça e resposta - permaneceu inalterada pelo tempo. Há quem diga que se a essência de um ensino é mantida intocada, pouco importa o modo como ela nos chega. Porém, basta pensarmos um pouco em algumas outras histórias que fazem parte da nossa cultura para vermos que isso não é verdade. Por exemplo, teria a mensagem divina nos alcançado do mesmo modo e com a mesma intensidade se Cristo não tivesse encarnado? Gostaríamos do mesmo modo de poesia se ela viesse sob a forma de tratado? Ouviríamos as mesmas canções se elas fossem gravadas em ritmo idêntico ao de uma conversa qualquer? Parece-me que não.

O que quero dizer com isso é bastante simples. Por mais simpática e aconchegante que me pareça a figura do Papai Noel, será que o modo como o representamos em nossa cultura e em nosso país nos alcança com a mesma eficácia e profundidade com que alcança às culturas e povos do hemisfério norte, onde, a esta época do ano, faz muito frio e há pouca luz solar? Faz algum sentido vestir-se com botas, capuz, mangas compridas e calças compridas em pleno verão tropical? Se a mensagem por ele trazida é tão boa e tão aguardada não seria melhor que o acolhêssemos de tal modo a ponto de fazê-lo sentir-se em casa, tornando-o, então, bem brasileiro?

Quando penso em um bom velhinho aqui destas bandas do mundo, ocorrem-me algumas pessoas interessantes. Penso, em primeiro lugar, em alguém como o Luis Fernando Veríssimo: um Papai Noel um pouco tímido, discreto, mas muito bem-humorado e que traz livros para todo mundo. Ou então penso em alguém como o Paulinho da Viola: um Papai Noel negro como a maioria do nosso povo e que traz o samba e sua poesia para nossas casas, bares e vilas. Penso também no Ermeto Pascoal, para não fugir ao estereótipo do velhinho de barba branca, mas que é bem brasileiro: este ensinaria muitos instrumentos diferentes a todos. Por fim, penso no Chico Buarque, um Papai Noel sempre com muitas pretendentes a Mamãe Noel: ele traria a bossa, a delicadeza e uma história de fôlego, profundamente inspiradora.

Estes são só alguns dos muitos modelos brasileiros de Papai Noel possíveis. Há também aqueles velhinhos que não são tão bons assim, como o Paulo Maluf, por exemplo: este certamente desviaria os presentes em benefício próprio. Há ainda o Antônio Carlos Magalhães (in memoriam): este Papai Noel roubaria os presentes, mas tudo pelo bem da Bahia. Temos também o Papai Noel José Genoíno: este amedrontaria a todos e distribuiria polígrafos explicativos sobre guerrilha... Melhor parar por aqui, pois esta lista vai looooonge.

Enfim, estes são os meus exemplos, tanto bons quanto ruins, para pensarmos um pouco nesta que já é nossa tradição, ainda que com cara estrangeira: o Papai Noel. Quais são os seus exemplos?

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Um comentário:

berna disse...

Meus exemplos são aquelas pessoas que, nós nunca tomamos conhecimento através da mídia, mas que se doam ao próximo porque ama de verdade. São os papais-noéis e mamães-noéis anônimos de cada dia.

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