19.1.09

Estamos em crise!

Posso falar para você sobre crise? Pois me dê licença. A única vantagem de ter a minha idade é ter vivido crises. As outras eu troco por uma boa ereção. Na verdade, a idade não rende nada, não traz nada e não serve para nada. A idade serve talvez para você saber inventar melhores explicações para peru mole.

Acontece que o mundo não está interessado em teorias sobre broxadas. O mundo troca – ingrata vida! – uma boa trepada pela mais bem estruturada teoria sobre as causas da finitude da paudurecência diante da perversa distribuição de renda. Aliás, se você quer saber, a distribuição de renda justifica ativismo político. Pau mole é outro departamento. Pau mole é culpa sua. Sabe como é que é, né? Experiência é uma balela que só os velhos acham que traz alguma vantagem.

Bukovisky escreveu um dia: “Onde está você, juventude? Só agora eu percebo o quanto você faz falta, sua grande filha da puta”. Pois é, está dito. Eu já fui jovem e já li Bukovisky, hoje tão quanto a Maisena. Ou a pomada Minâncora. Pensando bem, como a MTV e sua estética bregamodernaranheta.

Voltando à crise, posso garantir a você que já vivi situações econômico-sociais como esta que estamos vivendo muito mais vezes do que gostaria. E posso concluir, do alto de minhas seis décadas, que o ruim não é a porra da crise. O ruim é ter que falar sobre ela. Vai daí que estou afirmando e assinando embaixo que esta crise é igual a uma porrada de outras que já existiram, que existiram e que servem para darem freio de arrumação na estrutura das empresas e no nosso próprio estilo de vida.

Hoje eu liguei para um amigo empresário para pedir um livro emprestado e conversamos sobre a vida e a crise. Jogamos um sobre o outro nossos lugares-comuns de sempre, nossas inside informations tão furadas quanto as inside informations que um empresário passa para o outro e concluímos, finalmente, uma coisa importante. Que precisamos sair para almoçar e chegar muito tarde de volta ao escritório. E durante o tempo em que estivermos juntos vamos falar muita besteira. Combinamos rir. De nós mesmos em primeiro lugar, dos amigos em seguida e principalmente da filha da puta da crise.

É preciso exorcizar de nossas vidas os bem informados mensageiros da desgraça, os sommeliers do modismo, os charutos posudos. Qualquer um que leia Valor, Gula, Vinhateiro Moderno sabe falar da crise, charutos ou vinhos com a maior autoridade. Estou ultimamente precisando apenas de bom papo, boas histórias, boa filosofia de vida e carinho amigo. Pode ser que eu esteja ficando irremediavelmente veado. Pode ser. Mas, juro, serei um veado menos chato do que um veado conhecedor de vinho, charuteiro e filósofo de crise econômica.

Serei, se Deus me permitir e der forças, um veado como Milton Cunha. Um veado inteligente, alegre, criativo. Talvez até um pouco mal informado sobre as razões da situação econômica. Mas capaz de contar coisas que realmente importem às almas não pequenas. Enfim, continue aqui me lendo. Hoje foi só um desabafo. Coisas de dias de crise.

Lula Vieira, no Propaganda & Marketing.
ilustração: José Carlos Lollo / África

Leia +

Nenhum comentário:

Blog Widget by LinkWithin