Sinto um nó na garganta quando leio artigos sobre pessoas, com minha idade e minha formação, que estão obtendo sucesso profissional em empresas. Por que eu não consigo ser tão bem-sucedida como essa gente? – L.M.C.
Esse nó significa que você talvez esteja adotando a exceção como se fosse a regra. Se você fizer uma lista de todas as pessoas que conhece e comparar o que elas conseguiram na carreira com o que você conseguiu, muito provavelmente descobrirá que está situada na média, ou um pouco acima dela, tanto em termos de função quanto de remuneração.
Sua lista também revelará que 5% de seus conhecidos, se tanto, sobressaíram e estão um pouco à frente dos demais, enquanto outros 5% se mostram desanimados, sem perspectivas e sem rumo. Só que os artigos sobre sucesso sempre usam o topo como referência. E aquele profissional que aparece na foto que ilustra o artigo, sorridente e com pose estudada de bem-sucedido, é mais minoria ainda – ele representa uma fatia de 1% dos 5% – ou um em cada 2 mil.
Segundo o IBGE, o Brasil tem cerca de 5 milhões de empresas privadas, desde gigantes com mais de 50 mil colaboradores até micronegócios com apenas um funcionário. Juntas, elas empregam perto de 30 milhões de pessoas. As cem maiores – aquelas que costumeiramente aparecem nos artigos que você menciona – respondem por 2% dos postos de trabalho, ou 600 mil vagas. Nelas, há 30 mil profissionais (ou 5%) que ocupam cargos de liderança e recebem mais de 15 salários mínimos por mês. Mas o olimpo dessas empresas acomoda não mais de 600 executivos com vencimentos superiores a 120 salários mínimos mensais – atualmente, 50 pilas, ou 1.000 onças-pintadas.
Considerando-se todas as empresas privadas do país, chega-se no máximo a 20 mil profissionais que, de fato, estão conseguindo extremo sucesso – considerando-se que “sucesso” geralmente é percebido como “salário de deixar o papa com inveja”. Porém, ao ler um artigo, ou um livro de auto-ajuda, fica aquela impressão de que as chances são muito maiores do que realmente são, e a consequência é certa frustração, igual à que você está experimentando. Como, em sua mensagem, você informou que ganha o equivalente a sete salários mínimos, você parece não ter consciência de que está bem mais próxima do topo da pirâmide do que da base (ainda segundo o IBGE, a média geral é de 3,2 salários). Isso quer dizer que, proporcionalmente, você é um sucesso, embora não se tenha dado conta disso.
Para a pergunta seguinte – como você sai do patamar em que está para ingressar no seleto clube dos 20 mil estupidamente bem-sucedidos? – não há uma resposta exata. Como você mesma disse, “essa gente” não possui grandes diferenciais que saltam à vista. Uma parte nem sequer concluiu o curso superior. Existe também o fator “sorte”, que se manifesta quando a preparação adequada cruza com a oportunidade.
Outro fator, hoje em dia menos valorizado do que deveria ser, é a estabilidade. Das pessoas bem-sucedidas que eu conheço, a maioria teve, no máximo, três empregos nos primeiros 15 anos de carreira. E 30% delas continuam na mesma empresa em que começaram. O talento e a criatividade podem ter contribuído, mas essa gente de sucesso foi, acima de tudo, paciente, persistente, extremamente dedicada e consistentemente produtiva. Quatro coisas que qualquer pessoa pode ser.
Max Gehringer, na revista Época.
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12.1.09
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