31.1.09

Neuroses eclesiásticas (9)

Todas essas perguntas geralmente mostram que estamos preocupados em não errar. E que, tal qual nas pregações dominicais, Deus parece sempre insatisfeito, esperando alguma melhoria de nossa parte. Em algumas denominações, esse cuidado em não errar adquire tons mais dramáticos porque, atrás da esquina, ainda nos espreita o terror da perda da salvação.

Os cristãos temos medo de errar, de tomar decisões erradas. Nos dedicamos a combater o pecado. Por isso, naturalmente, temos receio de nos envolver com iniciativas de outros grupos, especialmente se forem de fora da igreja. Nossa maior preocupação, nossa maior busca, é por saber “a vontade de Deus”. A supremacia em nosso coração é do DEVER: o que é que eu devo fazer? O que é certo?

Perguntas como “crente pode isso?” ou “É pecado tal coisa?” revelam o mesmo sentimento, e a nossa preocupação mais íntima: temos medo de errar. Por isso, a não ser que tenhamos certeza de que aquilo é a vontade de Deus, melhor não fazer. Certo?

5. A qualidade de nossa membresia - a roda viva

Ao mesmo tempo em que estamos preocupados com não errar, essa pergunta de “o que é que eu devo fazer” encontra resposta rápida na igreja. Parece que, na falta de bons relacionamentos, que dêem prazer simplesmente por estarmos juntos, nos dedicamos a criar várias atividades na igreja, que nos mantenham sempre ocupados e “produtivos”. Assumir cargos na estrutura da
igreja é uma velha forma das igrejas tradicionais engajarem alguém. Já as igreja pentecostais multiplicaram o número de cultos, seja no templo, seja nos lares, também como forma de manter participantes um maior número de pessoas.

Na igreja tradicional “precisamos” de pessoas para cantar nos corais, para distribuir folhetos de casa em casa, para dirigir ou auxiliar em diversos departamentos, com atividades no sábado e em todo o domingo. Nas comunidades pentecostais, as pessoas “precisam” comparecer aos cultos quase todos os dias da semana, com destaque para a participação na equipe de louvor. Ambas as igrejas formaram uma espécie de “grade de programação” que precisa ser preenchida (e acompanhada) pelos membros.

É uma espécie de roda-viva, como aqueles moinhos dos tempos antigos, empurrados por animais ou por escravos, em que a pessoa era acorrentada a seu tronco para empurrar sem cessar, e sem poder sair. Geralmente a gente só percebe a loucura desse ativismo quando o vê de fora. Para quem está nos papéis centrais, como os pastores, só dá para pensar na próxima “necessidade” a ser preenchida (precisa alguém para trazer a palavra, alguém para dirigir os cânticos, alguém para dirigir a oração, alguém para dar os avisos, etc, etc, etc,).

Para pessoas que vivem solitárias ou não têm bom relacionamento familiar, a igreja com tantas reuniões acaba até ajudando a suprir a carência de relacionamentos. Mas para aqueles que têm vida em família, a igreja acaba prejudicando a qualidade de relacionamentos, por praticamente não permitir que façam programas entre si (nos sábados, jovens e adolescentes têm atividades;
nos domingos, a obrigação é todos estarem na igreja - e novamente divididos por faixa etária).

Quando é que pais e filhos podem passear, ter lazer em conjunto? Durante a semana, quando todos têm escola e trabalho?

Karl Kepler, psicólogo, pastor e teólogo.

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2 comentários:

Anônimo disse...

A multiplicação das reuniões no templo faz com que elas percam a qualidade.
Antigamente, quando o deslocamento era mais difícil, havia apenas uma reunião por semana, a qual era esperada com prazer e realizada com verdadeira intensidade espiritual e que alimentava o povo pela semana inteira, criando desejo pela próxima.

Pavarini disse...

em muitos casos, a multiplicação de reuniões nos templos tem meramente a finalidade de aumentar a arrecadação.

as campanhas se sucedem, de alguma forma induzindo o frequentador a depender de "unções" e de "ministrações", sempre precedidas por "desafios" e "sementes de fé". haja aspas...

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