17.1.09

Neuroses eclesiásticas (7)

É verdade que entre os irmãos neopentecostais as pregações têm algumas características próprias, criando um clima parecido com o do Êxodo, em que Israel saiu do Egito e está a caminho de tomar posse da Terra Prometida. Mas o efeito sobre a audiência, apesar das grandes diferenças externas, internamente é semelhante: os irmãos neopentecostais são compelidos a virem à frente receber uma unção do pastor/pregador para que sua vida melhore (até o domingo seguinte, quando o procedimento será repetido); já os pentecostais e tradicionais saem do culto compenetrados com alguma virtude que ainda lhes falta.

Voltando à figura do estádio de futebol: os pastores sabem que esse jogo não é apenas para os 22 em campo e não se conformam com a falta de participação da audiência. Essa frustração com a igreja transparece em muitas pregações.

As frases mais ouvidas são de necessidade de compromisso, de seriedade, de obediência (às vezes em troca de proteção ou bênção). O sentimento transmitido é que Deus lá do alto está insatisfeito com você; você precisa se dedicar mais, ou ler mais a Bíblia, ou orar mais; ou evangelizar mais; ou jejuar, ou combater mais o pecado; etc., etc.

Até coisas prazerosas foram transformadas em dever. Amar aos irmãos, ter comunhão com Deus, ajudar a diminuir sofrimentos dos outros, tudo é lido e ouvido sob a ótica do dever, do mandamento a ser obedecido. Recentemente examinei a revista de Escola Dominical de uma grande denominação evangélica. Fiquei impressionado como tudo o que estava escrito no trecho bíblico estudado (além de muita coisa que nem estava no texto) era transmitido como se fosse o 11o. e o 12o.mandamentos.

Provavelmente aqui estamos em contato com uma importante fonte de nossos problemas. Quem atendeu ao apelo que dizia “Vinde a mim, vós que estais cansados e sobrecarregados, e achareis descanso para vossas almas”, agora só ouve mensagens (pregadas em nome do mesmo Deus) que exigem mais empenho, mais engajamento, mais esforço... Cadê o descanso prometido?

No meio de tantas cobranças, ainda somos levados a cantar “Satisfação é ter a Cristo, não há maior prazer já visto” (ou versões mais modernas da mesma mensagem). E ainda insistem para cantarmos com entusiasmo! Isso não pode ser saudável...

Aproveitemos e examinemos um pouco também dessa área das nossas igrejas:

3. O Clima do Louvor e Adoração

Também aqui encontraremos, dito de forma simplificada, pelo menos dois formatos diferenciados (vejam novamente nossa “capacidade” de nos dividirmos): o formato “tradicional” e o “avivado” ou pentecostal. E tentando ficar no meio do caminho, algumas igrejas “modernas”, mais tradicionais na teologia, porém informais no culto.

No formato tradicional, o louvor em nossos cultos é utilizado para a transmissão de mensagens. É a forma musicada de expressarmos as mesmas coisas que são pregadas, uma espécie de continuação (ou complemento) da pregação falada. Os que tocam e cantam sentem que estão fazendo “a obra do Senhor”, e se dedicam - às vezes dramaticamente - a fazê-lo.

O canto congregacional também é um complemento da mensagem pregada, com os hinos escolhidos do hinário daquela denominação, de forma a trazer mensagem coerente com o que estiver sendo dito no culto. E todas partes musicadas são previamente programadas, com raras exceções. Para os mais jovens, cânticos mais recentes com letra projetada em tela e instrumentos eletrônicos; para a geração dos pais e avôs, hinos acompanhados ao piano ou órgão.

Com o passar dos anos, o entusiasmo pelos cânticos diminui, possivelmente pela mesmice.

Karl Kepler, psicólogo, pastor e teólogo.

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