3.1.09

Neuroses eclesiásticas (6)

E enquanto Deus é sentido “lá no alto”, aqui em baixo existe uma categoria de servos especiais dEle, que de certa forma O representam: são os pastores e pastoras e, no caso dos irmãos pentecostais, também os profetas e profetisas.

É a eles que buscamos quando precisamos ouvir alguma orientação da parte de Deus, quando queremos “ouvir a palavra de Deus”. E, mesmo quando não procuramos, são eles que trazem a mensagem de Deus para nós, nas pregações dominicais (e nas eventuais profecias a nós dirigidas). Não dá para negar: mesmo que nós protestantes afirmemos a correta doutrina do “sacerdócio universal dos crentes”, no ambiente da Igreja praticamos uma separação entre ministros (pastores, anciãos, presbíteros, qualquer que seja o nome) e os irmãos e irmãs em geral, muito parecida com a diferenciação entre clero e leigos na igreja católica. Essa hierarquia amplia, no cristão comum, aquele sentimento de pequenez, de incapacidade própria.

Conseqüentemente, o mapa de atividade na igreja se parece muito com um estádio de futebol: muitos sentados assistindo e alguns poucos “heróis” correndo feito loucos, providenciando a “ação”. Como a igreja não é um clube de futebol, e como são esses poucos ativos os que fazem uso da palavra, é muito freqüente que eles confundam “viver para Deus” com “assumir alguma responsabilidade nesta igreja” (afinal, eles estão sentindo o desgaste na própria pele).

Isso nos leva à próxima área de investigação:

2. O Clima das Pregações

Tradicionalmente, temos dois tipos de pregação em nossas igrejas: os sermões para “os de fora”, chamados de sermões evangelísticos, e o sermões para “os de dentro”, para os crentes, os sermões doutrinários. As diferenças entre esses dois tipos são grandes, e bastante reveladoras. Nas mensagens evangelísticas a tônica é: “Deus te ama, e te aceita; venha para Jesus assim
como está, e Ele perdoará os teus pecados; saia dessa vida e junte-se a nós”.

Antigamente quase todas as igrejas tinham cultos no domingo pela manhã (dirigido aos crentes) e novamente à noite (dirigido aos visitantes, evangelístico). Hoje apenas alguns grupos mantêm essa prática. Mas o que é pregado aos crentes, para os que já aceitaram a mensagem evangelística, decidiram crer em Jesus e se integraram à igreja?

Nas últimas duas décadas tenho visitado muitas igrejas diferentes no Brasil, tanto tradicionais quanto pentecostais, além de algumas católicas. É impressionante a semelhança do “tom” das mensagens. Quando falam aos crentes (que é a grande maioria dos casos), os pregadores sempre estão cobrando alguma coisa, sempre mostrando a necessidade de algum aperfeiçoamento. (continua)

Karl Kepler, psicólogo, pastor e teólogo.

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