28.3.09

Neuroses eclesiásticas (12)

Esse medo de errar explica nosso não-engajamento em questões mais complicadas, como as lutas sociais, políticas ou econômicas, e também explica o não nos darmos maior liberdade artística, humorística e criativa. É impossível não cometer erros ao lidar com essas coisas. Já a preservação do meio-ambiente, por exemplo, é um pouco menos “arriscada”, por isso aos poucos a igreja vai conseguindo se envolver um pouquinho mais com ecologia.

Na década de 80, quando a Nicarágua era governada pelos sandinistas e os Estados Unidos apoiavam ataques de mercenários (os “Contras”) para tentar desestabilizar aquele governo esquerdista, um pastor batista nicaragüense me contou que a grande dúvida dos jovens crentes era se eles deveriam ou não pegar em armas para combater os “Contras”, e assim defender o seu país e as suas conquistas políticas. Ele queria vir ao Brasil estudar ética em nossos seminários, para poder auxiliar o seu povo.

Infelizmente tive de lhe dizer que nas classes de ética por aqui, ao menos naquela época, não seria tratado nenhum assunto parecido com o que ele procurava. No máximo tratariam de questões individuais, como aborto ou sexualidade, dentro da ótica do “porque é certo isso e errado aquilo”. Comportamo-nos como crianças com medo de se arriscar: melhor não se envolver com essas coisas...

O paralelo com crianças temerosas pode nos ser útil aqui. A figura de Pai para Deus é uma das mais utilizadas, especialmente pela Sua revelação mais perfeita, Jesus Cristo. Quem visita orfanatos sabe como se comportam crianças que sentem falta de mãe e pai. Os pequeninos se agarram aos adultos que chegam, procurando ser o mais amáveis possível e obter o máximo de carinho (ou coisas) que puderem. Estão realmente carentes. Quando alguma dessas crianças vai para adoção, o juizado costuma pedir um acompanhamento, com relatórios periódicos.

É interessante que um dos sinais que podemos observar para saber se o filho/a adotado está se sentindo amado e aceito na nova família (falo aqui de crianças, não de adolescentes, cuja dinâmica é diferente) é quando ele começa a reclamar, a brigar e, caso haja filhos “naturais” convivendo, quando ele se permite se defender e brigar com eles por espaço!

Enquanto a criança não se sentir amada e segura, vai ficar quietinha e procurar ser agradável (temendo ser “devolvida”). Só à medida que ela for se convencendo de que está aceita e é amada naquela família é que poderá “expor sua alma” e lutar por seus desejos, como toda criança faz.

Karl Kepler, psicólogo, pastor e teólogo.

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Um comentário:

Carol disse...

Nossa, que texto incrível.
Sou blog tem um ótimo conteúdo. Diversificado e de muita qualidade.

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