Minha sina não é realizar projetos, mas sepultá-los antes que eles tomem corpo – mesmo sabendo de antemão que eles jamais chegariam a ponto tão admirável. Queimaria alegremente esse amarelo fosco se ele pudesse ser queimado, se a boca do fogo não o repelisse com seu retumbante riso de indiferença. O criador consciente do pecado que é deflorar uma página em branco, já insuportavelmente arrependido, procura se redimir.
Não me foi dada ainda aquela redenção, pois o fogo pode queimar Sodoma e pode queimar o peito que ama, mas não queima rabiscos em tintas foscas, que com as melhores intenções não tencionavam convencer o “alheio entendimento” e mover a “alheia vontade”.
Ouvi nos últimos dias a voz grave e boa de Chesterton, e ela me acusava de ter “um coração heroicamente grande e generoso; mas não um coração no lugar certo.” Devo confessar que nunca me senti tão culpado por um crime, e paralelamente tão satisfeito por descobrir-me um criminoso precisamente onde achava que era um herói.
Talvez sepulte a tinta fosca, ou talvez a defraude. Só lhes peço um favor: não venham até aqui esperando o mesmo de sempre: ou toparão com um cadáver ou toparão com um monstro, ou ainda – e isso é terrivelmente pior – toparão com o mesmo de sempre.
Alysson Amorim, no blog Amarelo fosco.
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21.6.09
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