7.1.09

Os pró-testantes

Ainda que Lutero não tenha pretendido dar origem a uma cisão dentro da igreja cristã, o protestantismo, desde o princípio, fez juz ao próprio nome. Nascido de um protesto contra alguns abusos da igreja católica romana, o protestantismo, no entanto, não parou com seus protestos por aí.

Em seguida, cristãos já separados do romanismo resolveram também fazer seus protestos contra algumas das posições de Lutero, dando origem a mais uma cisão. O resto da história todos sabem, de protesto em protesto, chegamos a um sem-número de denominações, e, quem diria, desaguamos até em algumas seitas, todas, obviamente, protestantes também.

Como era de se esperar, o intento unitário inicial, de autoria da própria Reconciliação em carne e osso, ficou em segundo plano, e o gene do protesto permaneceu imperando nas atitudes dos cristãos. O problema é que, com o correr do tempo, caiu-se na automação e protestar tornou-se quase uma mania, em lugar de fruto de reflexão. Com isso os protestos tornaram-se cada vez mais banais, inspirados por motivos cada vez mais fúteis e não resultando em outra coisa senão palavras, vento e vaidade.

Aqui e ali, no entanto, e ao longo de todos os séculos, alguns poucos foram além do mero protesto. Não que o protesto não fosse e não seja importante, veja bem. O protesto realmente foi e é oportuno quando possui uma causa fundamentada e é resultado de uma crítica responsável. Mas, voltando ao ponto, aqueles poucos e ousados cristãos, decidiram que precisavam também pró-testar. Isto é, eles eram pró-prática, pró-ação e precisavam agir, precisavam buscar por alternativas e soluções para aquelas questões sobre as quais anteriormente haviam protestado. Assim, o protesto era sempre um pró-teste, originando um experimento, um ensaio, um escape, uma saída, às vezes mais, às vezes menos satisfatório, mas sempre uma resposta.

O que há de ainda mais interessante nesta quase perdida tradição é o fato de que, na busca por pró-testar, pouco importava se aquele irmão ou irmã que estava ali ao lado profundamente empenhado em ajudar era católico, anglicano, batista, assembleano, espírita, budista, ou o que fosse. O importante mesmo era o bem comum, maior que suas diferenças. O importante mesmo era o serviço prestado, a missão cumprida, os necessitados supridos. Cada um, depois, que se resolvesse com o seu Deus.

Deste modo, muito anterior ao nascimento do protestantismo, surgiu o protesto que buscava ser pró-testante e que reconciliava a todos na luta contra todas as formas de discriminação e no Amor que envolve o mundo inteiro.

Camila Hochmüller

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3 comentários:

berna disse...

GOSTEI MUITO DA MATÉRIA E ACHO QUE PRECISAMOS MESMO PROTESTAR UNIDOS,INDEPENDENTE DE RELIGIÃO. TENHO CONHECIMENTO DE PADRES QUE SÃO VERDADEIROS EXEMPLOS DE LUTA POR AMOR AO PRÓXIMO.

Levi Nauter disse...

é SÓ NO CONTEXTO EXPRESSO NOS DOIS ÚLTIMOS PARÁGRAFOS QUE FAZ SENTIDO VOLTAR ÀS ORIGENS, À IGREJA PRIMITIVA. Isto é, retomar o amor como alicerce junto com a reflexão.

Temos de ressignificar/repensar o cristianismo. Nem tanto a Lutero, nem a Calvino e muito menos aos 'fashions' McLaren e ou Bell.

Abraços Camila e parabéns pelo texto.

Camila disse...

Obrigada Berna e Levi!
Realmente, assim como o Espírito de Deus não conhece limites, assim também o amor e a boa-vontade, frutos seus, não se limitam a placas.
Um abraço!

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