11.1.09

Só queremos colo

“quero chorar a teus pés...”
“me abrigarei debaixo de tuas asas...”
“tu és minha fortaleza...”
“em ti me refugio...”

Esses são só alguns exemplos de versos recorrentes em músicas cristãs. Eles demonstram o desejo que todos nós temos de ter alguém mais forte do que nós para nos proteger e embalar. Somos todos órfãos, no fim das contas.
Não importa se somos “trintões” mimados pelos pais ou se fomos criados em um orfanato. Somos todos carentes; bezerros desmamados saudosos dos tempos em que nossas ambições se resumiam a ter um colo quentinho. Com poucos anos de vida já descobrimos que todos morrem, que os pais não estarão por perto para sempre e aí já começa a sensação de desamparo que não pode mais ser aplacada com um simples colo.
A partir de então seguimos buscando a mesma certeza de segurança que sentíamos na primeira infância ou mesmo no útero; não sabíamos da morte, nem das misérias humanas, não conhecíamos bondade ou maldade, simplesmente éramos. Éramos plenos. Confiávamos na proteção do adulto que cuidasse de nós. Desde que ele estivesse lá para atender a cada choro, nada mais importava; estávamos seguros.
Mas chega um momento em que nem todo o carinho do mundo aplaca nossa angústia. A partir do momento em que temos consciência de que “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe” passamos a viver com uma ansiedade que nos acompanha pelo resto da vida. Os pais amorosos, os amigos verdadeiros, o cônjuge fiel, nada disso vai durar para sempre e só nos resta desejar com todas as forças que dure o máximo de tempo possível. Como não viver angustiado com uma expectativa dessas?

Daí que não nos conformamos em não ter ao menos um símbolo de segurança que nunca pereça; um ser que esteja sempre ali, firme e forte, agüentando o tranco quando nós já não agüentamos mais. Pronto: Deus! Deus é nosso útero, nossa chupeta, nosso dedão na boca, nosso colo quentinho, nosso leite materno, nosso beijinho no machucado, nosso pai fortão que dá um jeito em tudo. Todos os símbolos de calor e proteção que já conhecemos um dia são substituídos pela idéia do Deus Todo-Poderoso, Almigth Lord! É bonito e romântico acreditar nisso e cantar versos sobre a proteção suprema que só Ele pode nos dar.

Nosso desejo de nos sentirmos seguros é tão forte que fingimos não perceber que “a presença de Deus em nossas vidas” não nos protege efetivamente de coisa alguma. Continuamos suscetíveis a todos os perigos, doenças, tragédias, erros, micos e mancadas. Continuamos tendo de tomar todas as precauções necessárias: o cinto de segurança, a tranca na porta, a vacina, a água filtrada. Continuamos chorando às vezes sozinhos, sem saber por que; continuamos nos apavorando diante da morte, continuamos levando nossos filhos ao médico ao primeiro sinal de uma dor de garganta. Mas o desejo de ser protegido por algo ou alguém bem mais forte do que nós, o desejo de sentir-se seguro é tão grande, tão avassalador, que seguimos crendo nessa figura Poderosa mesmo sabendo que no fim das contas estamos por nossa própria conta e risco.

Mesmo que tudo de ruim aconteça, continuamos crendo que quando ninguém mais pode nos ajudar, ainda há Um que sempre vai estar presente. Crer em Deus é fruto do desejo de que as coisas sejam tão simples quanto eram na primeira infância. Ele nunca te abandona; Ele nunca te trai; Ele nunca te engana; Ele nunca quer o teu mal.

Mas na verdade, não é Deus que nunca abandona aqueles que crêem Nele, e sim a certeza de crer em algo. A certeza é a grande deusa. É ela que nunca abandona aqueles que crêem. Eles têm tanta certeza de que crêem na coisa certa que dizem não apenas crer que Deus existe, mas saber que Ele existe. Eles sabem. Assim como o bebê sabe que estando no colo da mãe ele está livre de todos os perigos para sempre. Bom para eles.

Ju Dacoregio, no blog Heresia loira.

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Um comentário:

Professor Rogério Souza disse...

Olá... há muito passo por aqui e me delicio com seus textos. Indicarei para meus parcos 40 leitores diários...rs Grande abraço e bom ano!

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